sábado, 2 de janeiro de 2021

 

O TEATRO DOS MEUS SONHOS

Entenderei um dia essa nossa vida de caminhar sozinho pra encontrar vazio um buraco cheio d'água. Entenderei um dia essa nossa sina de vagar perdido achando que é mais fácil chorar lágrimas de crocodilo do que ligar do orelhão da esquina e dizer: tenho saudades.

Entenderei um dia esse nosso guia que ensina que rimas assustam e desviam e  que não são apenas palavras e jograis bacanas, como pessoas bacanas.

Disso entenderei um dia.

Do amor entenderei, de querer entenderei, de não telefonar entenderei.

De não atravessar a rua para comprar cartões telefônicos nesse dia de outono para dizer: tenho saudade,... não entenderei nesse minuto. Pode ser outro dia. Favor deixar recado no próximo sinal.

Agora tenho mensagens, memórias, impossibilidades, quilômetros para dirigir.

Quando esta história estiver sendo contada no palco de um teatro de porão e você estiver sentada em uma das fileiras como nobre espectadora -- assim entenderei -- assim estenderemos nossos possíveis planos que nunca foram contados nem para nós mesmas: eu como boba da corte, você na realeza dos bichos de sete cabeças.

Entenderei um dia essa mania de chamar pessoas de humanidade, quando distancia não passa de longínquos bairros e perdemos o mais simplório sentido do querer.

O que é um cartão de telefone, mesmo? Porque eu ia dizer... tenho saudades?

Se eu me esqueço da pessoa...e essa humanidade que consegue deletar arquivos tão rapidamente quanto colocar o lixo pra fora de casa ou levar o cão pra passear na praça e vegeta...

...consciência é um privilégio ou um engano meu?

E agora é aquela que escreve essas letras tortas para aqueles que um dia disseram...sensibilidade é caro demais, tem preço.

Eu me lembro, por isso um dia entenderei e, sinto muito, meu bem, se esse é o teatro dos meus sonhos, e para você não tem papel.

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