PROMESSAS
diluo o açúcar n’água
faço banho maria das horas
dava corda no vento
divagava sobre a cor do pensamento
seu nariz na minha nuca
e o meu nunca, onde se esconde?
sinto saudades mas não sei
qual é o seu país...
O CORRETOR DESAVISADO
eu vou querer um pouco de dor no corpo e alma de pipa avoada que é o meu nome
completo da sua casa e a senha da minha mãe não é a gente se ver hoje eu estou
com saudade de você e a gente se fala mais tarde te ligo pra ela que ela não
tem nada a ver com isso é verdade mas eu não consigo nem imaginar o
fim-de-semana.
RESPOSTA
terno. complexo: completo
procurando termos
enterro daquilo que não é mais: completo.
intenso, bocas que dizem mais do que deveriam
dentes que concordam
gengivas que apóiam
magnitude da palavra: fé
um solo de violão que arrepia, existe.
a música que me conduz, respire.
não sobra nada além de um dó maior
calos nos dedos e pestanas ajuizadas.
sou muito mais do que imaginam seres
posso voar e
internamente
posso voar internamente,
contente,
agora tente
ser como eu
interno, complexo: completo.
amar da amargura sabedoria
seres imaginários povoam o céu do pensamento
resposta à dor: ande
não pare
não repare a solidão que não existe
insista
resista e ame-se.
se amo
amo tanto que desfaz a pergunta: que somos seres?
que tipo de gente, que carne ausente, que ferida aberta é essa?
enterro de truques.
da bobagem que nos contaram: não podia.
a sete palmos da terra, longe demais agora, inalcançável.
resposta pra tudo:
deixa estar,
estou amando.
SE EU SOUBESSE LER TUDO O QUE O CORPO CONFESSA
caminhar junto à roda dos ventos
pensamento leve feito saracura no mato
eu na verdade vim do sertão
só não contei a verdade
alinhar as desavenças com o tempo
trazer paz ao momento
e a tudo mais que se propõe nessa terra
há quem conte a verdade
perfumar os caminhos
trazer latas de tinta branca
colorir o céu de desejos
esmagar com força a vontade
não temer as arestas da vida
desnudar os passos
construir pontes imaginárias
celebrar o alimento que respira o vento
lá longe onde é só mato
encontrar a paz em longa liberdade
onde o sol que queima
é o mesmo que arde a floresta da vida
deslumbrar as páginas e passagens
copiar os melhores movimentos
vigiar o pensamento
e ser a essência do melhor viver
eu vim do sertão
só não contei a verdade
O TEATRO DOS MEUS SONHOS
Entenderei um dia essa nossa vida de caminhar sozinho pra encontrar vazio um buraco cheio d'água. Entenderei um dia essa nossa sina de vagar perdido achando que é mais fácil chorar lágrimas de crocodilo do que ligar do orelhão da esquina e dizer: tenho saudades.
Entenderei um dia esse nosso guia que ensina que rimas assustam e desviam e que não são apenas palavras e jograis bacanas, como pessoas bacanas.
Disso entenderei um dia.
Do amor entenderei, de querer entenderei, de não telefonar entenderei.
De não atravessar a rua para comprar cartões telefônicos nesse dia de outono para dizer: tenho saudade,... não entenderei nesse minuto. Pode ser outro dia. Favor deixar recado no próximo sinal.
Agora tenho mensagens, memórias, impossibilidades, quilômetros para dirigir.
Quando esta história estiver sendo contada no palco de um teatro de porão e você estiver sentada em uma das fileiras como nobre espectadora -- assim entenderei -- assim estenderemos nossos possíveis planos que nunca foram contados nem para nós mesmas: eu como boba da corte, você na realeza dos bichos de sete cabeças.
Entenderei um dia essa mania de chamar pessoas de humanidade, quando distancia não passa de longínquos bairros e perdemos o mais simplório sentido do querer.
O que é um cartão de telefone, mesmo? Porque eu ia dizer... tenho saudades?
Se eu me esqueço da pessoa...e essa humanidade que consegue deletar arquivos tão rapidamente quanto colocar o lixo pra fora de casa ou levar o cão pra passear na praça e vegeta...
...consciência é um privilégio ou um engano meu?
E agora é aquela que escreve essas letras tortas para aqueles que um dia disseram...sensibilidade é caro demais, tem preço.
Eu me lembro, por isso um dia entenderei e, sinto muito, meu bem, se esse é o teatro dos meus sonhos, e para você não tem papel.
VINTE E CINCO
tem dias que eu estou que sou.
pergunto minhas possibilidades
ao analista como quem precisa mesmo
ter certeza da opinião de um cético avaliador das horas.
nunca tive medo de contrariedades,
mas dos contrários do mundo
ora tenso ora terreno demais.
visto as fantasias necessárias
e me despeço da festa na hora do bolo
aprendi a gostar das celebrações depois
de velha porque acho que não vim com
esse gene, essa facilidade de comemorar o inusitado.
coloco as vírgulas de acordo com o
baile.
dentro da minha cabeça sempre
tem espaço para a sétima arte e a cada
ano que passa nãoo sigo mais o compasso
da música.
ela vem me seguindo.
PONTO DE FUGA
um sangue quente estancou a melodia
o que é que eu faria se não vivesse em você?
o mar de rosas que é meu ponto de fuga
minha raiva, minha cura, meu amor, o meu poder
o que seria dessa gente iluminada
se não houvesse ouvir do clamor dessa canção
seria apenas a tristeza interrompida
mas não se sustentaria
como sorte o carnaval
que foi meu mundo, minha vida, minha festa
tantos anos de avenida para te redescobrir
como meu gênio: minha ideologia
toda a filosofia de quem só sabe querer
agora só posso pedir que permaneça
que da vida não se esqueça
só levamos o perdão
parece teste mas é rota pra minha linha
que procura teu destino que vai de encontro ao meu
agora saiba que estas preso ao sentido
isso é bom pro paraíso que desejamos viver
um sangue quente estancou a melodia
o que é que eu faria se não vivesse em você