quinta-feira, 8 de junho de 2017

PARTIDA PARA CHEGADA

o mar me aprisiona
são centenas de algas presas aos meus pés
como nadar em meio aos tubarões
se estou tão distante de mim

agora a partida é certa
as malas estão prontas
a mochila esta completa
meu ar é de desprendimento

há um vulcão na espera
glaciares por toda parte
carne de baleia
estou partindo para perto

é o que me consola
o laço existe desde que me conheço
viajar horas para te ver
e o que encontrar além da própria saudade dentro de mim

gera medo
gera meu corpo cansado deitado no sofá assistindo nada
porque tanta ansiedade
perguntaria qualquer pessoa

é coisa do tempo
destrói minhas entranhas
e carrega consigo aquele mar
do começo do poema

sexta-feira, 2 de junho de 2017

GLACIARES

de longe
me vejo dançando em você

meu amor,
você é a única geleira que não posso desconstruir

quem dera apenas derreter dos meus pensamentos
o nosso fim.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

 UNTITLED SÓ PORQUE EU QUIS

desculpe não saber escrever prosa
você vai ter que ler tudo
rapidinho
 ESTAVAMOS A FALAR DE AMIZADES POR AI


a tristeza te pegou
fast forward
você não sabe pra onde ir
recue duas casas
no jogo da vida é assim mesmo
sua bola no estômago
só releva seu medo
se estraçalhar
na primeira esquina
não vai resolver
ja te disseram

você não ouviu
o roer das unhas
dissipou aquilo que era concreto
no céu dos esquecidos
fez pacto com a dor

coitada
não sabe que voltar
respira
todos os seus poros

e agora?

agora eu te abraço.
PLÁGIO

os livros são objetos transcendentes
caetano
caminhando sobre o sol

pela constelação do cruzeiro do sul
gilberto
nós também somos do mato como o pato e o leão

menina, amanhã de manhã
tom
augusta, que saudade

quando você me ouvir chorar
roberto
deixo no ar

apesar de você
maria
as pedras do que sou dilui

há quem diga que eu não sei de nada
sergio
eu quero é botar meu bloco na rua

cansei de ouvir abobrinhas
itamar
vou escutar escarolas

corre calma severina noite
ney
atento aos sinais

chorando feito fogo a luz do sol
gal
junte tudo o o que você conseguiu por coincidência

assim que o dia amanheceu lá no mar alto da paixão
djavan
eu ja fiz de tudo, cadê que adiantou?

faz tempo que meu coração não bate assim
jorge
sendo amor que venha diferente

pelas ruas que andei
alceu
o coração dos aflitos pipoca dentro do peito

eu agora sou bem diferente
odair
eu vou tirar você desse lugar

eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei
almir
ANGUSTIA NO CORPO DOS OUTROS É REFRESCO

entrelaçada pelo discurso roubado
poderia dizer que te amo
mesmo que não ame
só para te garantir perto
você meu
eu sua

uma ilusão contemporânea
consertando o ócio com amarras invisíveis

como um artista
desembrulhar a indiferença

mesmo sem saber usá-la, afinal.

depois de gritar, escandalosamente, por madrugadas insones
o caos retomando uma ponta perdida de genialidade
para que lado do coração apontar?

se vizinhos ouvessem
deles seriam as marcas do meu despejo

a garantia de possuir algo é tão ilusória
quanto esperar o sol nascer forte numa manhã de outono
todos os dias do ano
como se pudesse ser outono
todos os dias do ano
- e como eu queria

esquecer do inverno
suspirando com o vento que insiste em bater as portas da minha casa

mesmo que não te ame.
mesmo que será que te amo?
DESENHANDO NUVENS

a priori não existe sentimento meu que não siga seus passos.
A VIDA É FEITA DE AMOR E FÚRIA

eu poderia ter um mundo pra te mostrar
mas eu não tenho nada
eu preferia ficar muda a ter que falar
o que morre em mim aos poucos
afinal sempre foi segredo
aquilo que faz meu rosto derreter devagar junto aos meus neurônios


dos sufocos que afoguei, sem tem por perto mar.
das lembranças que vão dissipar, num livro póstumo.

um romance
jamais uma biografia

não lance qualquer palavra aos céus,
elas voltam amplificadas.
caem na testa e aniquilam o viver fazendo perder a única garantia que temos:
originalidade.

trancado em uma noite calma
sem alcool nem ninguém
sem ser fera nem porém
sem prato para jogar na parede e entre berros exclamar:
ja te disseram que tentei escrever poesia?

mas na verdade
o que sobra da sobra
é que a vida é feita de amor
e fúria.
O DESEJO DA FELICIDADE VINDA EM REBANHOS

I
a sensação de estar longe
a sensação de estar desconectado
a sensação de estar disperso
a sensação de estar em processo de falecimento dos sentidos
é apenas uma sensação.

a sensação de ser esmagado enquanto se caminha pela rua
por gigantes equinos amarelos foscos
é apenas uma sensação
quando se caminha com destino incerto e alma corrompida
é apenas uma sensação
um desvio
é apenas uma sensação
um salto
é apenas uma sensação
um delírio
é apenas uma sensação
a falta de ar por horas seguidas é
apenas
uma sensação.

II
primeiro adoece o gesto,
depois o corpo
enquanto sublimo
o cegar dos sentidos
o coração pesa para o lado errado.
somos os mesmos genes
porém
a menor fração de similaridade
a sensação denominada diferença
é apenas uma sensação.

III
eu quero dar a volta no medo
contorna-lo
deixa-lo livre porém sem espaço
fluindo devagar entre os poros da pele.
mastiga-lo
sorvendo entre os dentes o gosto amargo
ainda que necessário de sua existência
eu quero desenhar o medo
deixa-lo transtornado entre as linhas
mostrar a cada indivíduo no mundo que seu temor esta dissipado
é apenas uma sensação.
RESPOSTA

terno. complexo: completo
procurando termos
enterro daquilo que não é mais: completo.
intenso, bocas que dizem mais do que deveriam
dentes que concordam
gengivas que apóiam
magnitude da palavra: fé

um solo de violão que arrepia, existe.
a música que me conduz, respire.
não sobra nada além de um dó maior
calos nos dedos e pestanas ajuizadas.
sou muito mais do que imaginam seres
posso voar e
internamente
posso voar internamente,
contente,
agora tente
ser como eu
interno, complexo: completo.
amar da amargura sabedoria
seres imaginários povoam o céu do pensamento
resposta à dor: ande
não pare
não repare a solidão que não existe
insista
resista e ame-se.
se amo
amo tanto que desfaz a pergunta: que somos seres?
que tipo de gente, que carne ausente, que ferida aberta é essa?
enterro de truques.
da bobagem que nos contaram: não podia.
a sete palmos da terra, longe demais agora, inalcançável.
resposta pra tudo:
deixa estar,
estou amando.
RETORNANDO O CALDO

declarei minha vertigem por puro desconhecimento
vendi meu ouro, paguei meus impostos,
li adélia prado até pertencerem as páginas a mim
como gotas, peneirando levemente em banho lírico
fui fundo demais, mas quem não iria?
sabendo que sobra é momento
único
por isso ocupa apenas uma linha.